Nesse 18 de dezembro, desejos de um dia mais-que-feliz às mulheres apaixonadas pelo mundo subaquático!
mergulhadora
Prenda a respiração
A dica de hoje do Vida de Mergulhadora é o filme curta metragem “Fôlego”. O documentário tem como protagonista a catarinense Flavia Eberhard que largou a carreira de modelo para dedicar-se profissionalmente ao mergulho livre. Tendo como pano de fundo a água claríssima das Filipinas, cercada de uma divina biodiversidade, incluindo imersões em naufrágios e acompanhadas de tubarões-baleia a freediver compartilha com o público a paixão pela apneia.
Flavia é fotógrafa subaquática e instrutora de apneia desde 2009, quando começou a competir profissionalmente. É ainda recordista catarinense e sul americana com as marcas de 6 minutos sem respirar e -69 m, segundo o perfil da mergulhadora.
O curta é uma produção da SeaDragon -Underwater Adventures, idealizada por Flavia em conjunto com o também instrutor de mergulho livre e videógrafo subaquático Pepe Arcos. O vídeo foi premiado recentemente com o Prêmio Especial no festival Silently – Short Underwater Movie Festival Belgrade concedido pela Associação de Instrutores de Mergulho da Sérvia.
O curta deve ter continuidade como uma série no canal brasileiro de televisão por assinatura OFF. Nos episódios Flavia e Pepe percorrerão destinos de mergulho ao redor do mundo compartilhando suas experiências subaquáticas. Ainda, uma versão do filme com o nome Apneia produzido para o mesmo Canal foi ao ar em janeiro de 2015 .
A seguir assista o curta “Fôlego”.
O poder de uma ideia
Na semana passada, tanto recebi de várias pessoas quando acompanhei nas redes sociais, especialmente entre mergulhadores e grupos relacionados que sigo, a divulgação de uma imagem (a qual não tenho a menor ideia da autoria, embora a tenha até buscado) que me chamou imensamente a atenção: Na cena, uma mulher é arrastada pelo pé em direção ao mar por um mergulhador (entenda-se homem, macho, male entre outras denominações). Outro fato associado foi o de que os compartilhamentos, comentários e likes se davam com exclamações do tipo: “Comigo só se for assim!”, “É assim lá em casa”, “Mostre para Fulana sua esposa” ou ainda: “Minha mulher já está avisada” entre as mais frequentes expressões. Foi o que considero a verdadeira celebração do clube do bolinha mergulhador. Para entender minha reação, segue abaixo a fatídica imagem:

Diante desse episódio, gostaria de dizer algo bem importante: Comigo não é assim, e nem nunca foi. Nem comigo nem com inúmeras mulheres mergulhadoras, que vivem de e para o mergulho. Nem com aquelas que buscam apenas a si mesmas, alguma paz de espírito, contemplação à natureza, diversão, uma forma de praticar exercícios, fotografar ou a cura para suas feridas por meio do mergulho.
Não sou contrária a brincadeiras, e mesmo que pouco politicamente corretas às vezes, mas me incomoda muito o sentido como certos “memes” aparentemente inocentes refletem o estado arcaico, preconceituoso e imaturo da sociedade. Na verdade, de inocente a imagem compartilhada na internet tem muito pouco.
Primeiro, porque a icônica imagem de um homem da Pré-História arrastando uma mulher pelos cabelos que bem conhecemos não passa de um conto da Idade Média. Uma forma de fantasiar o suposto meio irracional de vida e de dominação masculina em um passado difícil de recompor até mesmo para o atual avanço da tecnologia. Assim, se você mulher, cresceu ouvindo essa história respire aliviada… Não passa de uma anedota Vitoriana, uma forma de imaginar e explicar o mundo naqueles tempos que, infelizmente sobreviveu até os dias de hoje.

No entanto, não respire aliviada para o fato de que mesmo depois de tantas batalhas femininas históricas por direitos e alguma igualdade civil, vemos novamente a ideia de inferioridade de gênero replicada.
Agora muitos pensarão: “Ah! Mas é porque o mergulho é um esporte/atividade/meio predominantemente masculino! Nada disso. Discordo. Se as mesmas condições sociais e econômicas (entre outras) fossem retratadas às mulheres, possivelmente teríamos tantas (ou mais?) mulheres quanto homens mergulhando. O que dizer, por exemplo, da maioria de mergulhadores japoneses ser formado por mulheres? O mergulho como qualquer outra atividade, apenas reflete os valores da sociedade em que se insere.

Sendo mulher, e desde que me tornei mergulhadora, tenho curiosidade sobre o que faz, ou não, alguém tornar-se mergulhadora. Assim, sempre que posso, venho coletando impressões com colegas ou com pessoas desconhecidas mesmo, aqueles que a gente encontra uma vez em uma saída de mergulho e nunca mais. Às vezes sou eu quem pergunta, outras vezes são essas pessoas que falam. Na primeira oportunidade vou soltando logo: “Sua mulher, companheira, namorada (e por aí vai) também mergulha?” Bem, para minha árdua surpresa na maioria das vezes a resposta é um não tão óbvio “Não…”, seguido das mais diversas justificativas: “Ela não se sente bem”; “Ela não gosta” ou “Ela não gostou da experiência”; “Ela tem pavor de água; “Ela não é chegada nessas coisas”, ela isso, ela aquilo… sempre ELA. Claro, que há a possibilidade de sim ser um fato: Não gosta e pronto! Mas, tenho certeza, de que existe uma outra versão da história sobre a “aversão” de mulheres ao mergulho. E eu gostaria de ouví-las da boca das próprias mulheres.
A minha história com água começa quando, aos cinco anos de idade, quase me afoguei em um lago e fui salva por um colega de classe da minha irmã mais velha. Depois, já adolescente, mais uma vez ia me afogando, dessa vez no mar, em um mergulho de final do dia. Fui salva pelas minhas melhores amigas. Durante muito tempo tive grande fobia de água. Mas para mim não havia alternativa se eu quisesse seguir a carreira que escolhi, se não enfrentar o medo. E como aconteceu? Passo a passo, de forma simples e eficaz: Voltei a fazer natação, me matriculei no curso de mergulho básico ainda na Universidade, comprei aos poucos meu próprio equipamento e passei a praticar. Mas o ponto fundamental, o ponto de virada para mim foi, depois de algum tempo, encontrar alguém que gostasse tanto de água quanto eu… ou um tanto mais.
E para isso, não importa se é um marido, um buddy, muitas amigas, os instrutores ou uma companheira. Ter ao lado alguém que não se intimida por tempo, mar e roupa de borracha é um incentivo importante. Ter alguém que ao invés de pegar pelos cabelos pegue pela mão e compartilhe o prazer e a terapia que é o mergulho.
Um bom mergulho depende de vários fatores, entre esses sentir-se bem com o equipamento, confortável na água e segura de si. Ter alguém com quem contar é fundamental para um bom mergulho. Por isso escolha bem seus parceiros, ou busque parceiros melhores. Desfrute da experiência de estar imersa e em contato com a natureza em todas as dimensões.
Em uma sociedade de excessos e altamente sem filtros, mesmo sem querer replicamos muitas ideias prontas. A ideia da mulher que precisa ser arrastada pelo marido para mergulhar eu não vou replicar. Não mesmo. Para mim essa não é uma boa brincadeira. Como cantou soletrado a Rainha do soul e do R&B Aretha Franklin ainda em 1967 o que as mulheres mais precisam é R.E.S.P.E.I.T.O. Segue de inspiração o video de Aretha. E bons mergulhos, sempre.
